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FUNDIÇÃO MULTICULTURAL 2020 apresenta ACERVO FUNDIÇÃO
Início das reformas e projeto Shopping Cultural Fundição Progresso: Perfeito Fortuna chegou a afirmar, em 1984: “A função do Circo Voador [na Lapa] foi preservar a Fundição Progresso, impedir que fosse derrubada”. O Circo, com toda a sua importância vital para a renovação do Centro, aterrissou com leveza na praça em frente aos Arcos da Lapa: sua estrutura metálica, relativamente fácil de ser montada e desmontada, sugeria uma certa efemeridade. De fato, embora tenha permanecido no local por treze anos, o que a multiplicação de “estações” do Circo Voador pelo Brasil sugere é que se entendia o Circo muito mais como uma ideia do que como um lugar físico.
Em contraste, a Fundição Progresso havia passado anos como um prédio que, por suas dimensões, localização e valor histórico, esbanjava potencial, porém que não se conseguia preencher com uma ideia. Esse abismo entre idealização e concretização geralmente acontece na direção reversa, uma ideia que não consegue se materializar, mas ficou evidente na Fundição de um jeito um pouco mais inusitado: era uma grande concretude que não conseguia virar nada.
Houve projetos de Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer, Hugo Carvana, Jaime Lerner, Ana Maria Bahiana, entre inúmeros outros, para transformar a Fundição Progresso em museu, centro comercial para ambulantes, ateliê de pintura, etc. Em 1987, foi assinada a cessão de uso do prédio por Márcio Calvão, Maurício Sette e Perfeito Fortuna. O Circo Voador estava em seu auge. Perfeito Fortuna sempre havia estado entre as lideranças do movimento para impedir a demolição da Fundição, e sempre havia defendido a criação de um centro de arte e cultura no espaço, regido pelos mesmos valores do Circo, de colaboração, experimentação e integração de diferentes formas artísticas. O plano, muito divulgado e celebrado na época, inclusive com uma maquete à mostra na Estação Carioca de metrô, era de um espaço multimídia, com espaços para exibição de filmes, palco para shows, gráfica, galeria de arte, além de lojas e um restaurante.
No entanto, o mau estado do prédio após décadas de abandono continuava sendo um empecilho prático. Outros haviam tentado e falhado em recuperá-lo, em parte por falta de verbas. A Lei Sarney trazia novas possibilidades. Instituída em 1986 e precursora da Lei Rouanet, foi a primeira lei de incentivo à cultura por meio da isenção fiscal. Basicamente, doações (100%), patrocínios (80%) e investimentos (50%) em cultura podiam ser deduzidos por empresas do Imposto de Renda. A nova direção da Fundição Progresso circulou anúncios que explicavam a Lei Sarney, e entre verbas do governo e de empresas privadas conseguiu dinheiro suficiente para dar início às tão esperadas reformas do prédio. A previsão era de que todas as obras fossem finalizadas até outubro de 1988.
O projeto era chamado de “shopping cultural”, por reunir espaços com funcionalidades das mais abrangentes, incluindo praça de alimentação e lojas, porém todos de alguma forma voltados para a produção e a difusão de cultura. As listas de tudo que seria construído entre as paredes da velha fábrica de fogões tornavam-se cada vez mais grandiosas, incluindo sorveteria, um banco, quatro restaurantes, academia de ginástica, piscina, e mais uma infinidade de coisas.
Como se sabe, as obras permaneceram inacabadas por mais de uma década, e o shopping cultural como havia sido anunciado não se materializou. No entanto, em pouco mais de um ano deu-se início a algumas atividades no espaço, ainda sem teto e com andaimes por toda a parte, que pareciam anunciar a chegada do centro cultural que há tanto tempo se esperava.
A atualização do acervo foi realizada dentro da programação on-line Fundição Multicultural 2020, com o patrocínio da Icatu Seguros por meio da lei municipal de incentivo a cultura e apoio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura.