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Mc Tha e Alice Caymmi cantam na Semana das Mulheres
Que noite! A Fundição Progresso recebeu sexta (06/03) duas artistas de trajetórias muito diferentes - e ambas fizeram muito bonito
Mc Tha, que abriu a noite, se apresentava pela primeira vez no palco da Fundição. É mulher negra, da periferia, nascida na cidade de Tiradentes, São Paulo. Veio da cena funk da Zona Leste. Iniciou sua carreira como conhecemos hoje a partir de várias transformações internas, após ter "desistido" aos 17 anos. Em entrevista à Fundição, ela conta: "Quando eu tinha 21, 22 anos, e quis voltar a cantar, eu procurei me aceitar como uma Mc diferente e entendi muito que era para falar sobre o Brasil. Ao mesmo tempo, eu conheci o terreiro, o empoderamento feminino, estava fazendo transição capilar, então foram muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo".
Com uma banda composta só por mulheres, Mc Tha apresentou seu trabalho, abrangente e diverso como é: as animadas músicas "Valente" e "Coração Vagabundo" tiveram seu lugar junto à sensual "Clima Quente" e à suave "Oceano", assim como os covers de "Tigresa" e "Jorge da Capadócia", de Caetano e Ben Jor. Até os pancadões mais característicos do início de sua carreira marcaram presença, enquanto Tha descia do palco para circular - e dançar - no meio do público. A sensibilidade que caracteriza o disco "Rito de Passá" é impressa na apresentação, que convida a plateia a olhar para dentro. "Espero que todos possam encontrar o caminho de vocês e tenham muita fé no que tem dentro de cada um", desejou a artista.
Alice Caymmi cantou em seguida. Nascida de uma das famílias mais centrais da música brasileira, no Rio de Janeiro, capital. O sobrenome já se alternou entre peso e privilégio, e Alice aprendeu a se reinventar para se tornar quem é. "Eu vivo querendo mudar e fazer uma coisa diferente, me tirar da área de conforto, tudo mais. Isso é uma constante e a Fundição é um espaço que acolhe todas essas mudanças. Aqui é um lugar que representa muito o Rio de Janeiro, minha cidade. A última vez que cantei na casa foi muito forte e eu acredito que hoje vai ser tão forte quanto, porque esse palco é muito especial. Me dá uma energia boa para trabalhar." Conta a cantora (Ficamos felizes em saber disso!)
Em sua performance, pudemos ver o resultado atual de suas mudanças e reinvenções. Unindo elementos teatrais - presentes desde o figurino até a interpretação - à seu talento como cantora, a rainha dos raios viu sua "profecia" se cumprir. O show foi cheio de energia e o público acompanhou animadamente o passeio da setlist, tanto pela discografia da cantora - em músicas como "A Estação", "Louca" e "Iansã" - quanto pelos covers, como "I Miss Her" (Olodum), "Problema Seu" (Pabllo Vittar) e uma divertida versão forró de "Shallow" (Lady Gaga).
Essa noite, pudemos ter mais uma demonstração do caráter multifacetado que nossas mulheres artistas trazem para a música brasileira. As várias fases de Alice e a mistura de ritmos de Tha nos lembram da riqueza e versatilidade das contribuições femininas em diversos gêneros do nosso cancioneiro. Porém, é claro que esse potencial incrível só pode se desenvolver se houver oportunidade para tal:
Vamos ouvir nossas intérpretes!
Vamos valorizar nossas compositoras!
Vamos divulgar nossas musicistas!
Só com a devida visibilidade, elas podem continuar elaborando esses trabalhos múltiplos, poderosos e deliciosos!
Por: Pedro Marinho
Foto: Luiz Franco