"Dias Felizes", de Samuel Beckett, ganha nova montagem pela Armazém Companhia de Teatro

Peça terá duas semanas de cartaz no espaço do grupo na Fundição Progresso

"Dias Felizes", de Samuel Beckett, retorna aos palcos em uma nova montagem da Armazém Companhia de Teatro, explorando, com ironia mordaz, o frágil equilíbrio entre o contentamento e o desespero. Neste clássico do século XX, a condição humana é exposta com brutalidade e sarcasmo, revelando como nos agarramos a rituais e memórias para suportar a passagem do tempo. O espetáculo estreia  no dia 3 de abril, no Espaço Armazém, sede da companhia na Fundição Progresso, e fica em cartaz até 17 de abril.

Sob a direção de Paulo de Moraes (vencedor em 2024 dos Prêmios APTR e FITA por "Brás Cubas"), a montagem ressignifica a jornada de Winnie (interpretada por Patrícia Selonk), explorando a fina camada que separa o otimismo da resignação. Enterrada até a cintura – e depois até o pescoço – Winnie encontra em seus pequenos rituais a última linha de defesa contra o colapso. Entre o sino estridente que pontua seu dia como um despertador sem trégua e o sol impiedoso que derrete qualquer noção de tempo, ela se apega ao conteúdo de sua bolsa espaçosa: uma escova de dentes, um batom, um espelho – e, mais ameaçadoramente, um revólver.

Willie, seu companheiro enigmático e silencioso, é interpretado em dias alternados por Felipe Bustamante, Isabel Pacheco e Jopa Moraes. Na montagem da Armazém, Willie não é apenas um espectador passivo da decadência de Winnie, mas um parceiro de cena improvável – ora cúmplice silencioso, ora um lembrete incômodo de que até a solidão pode ter companhia.

Beckett definiu Winnie como "um pássaro com óleo em suas penas", uma criatura do ar condenada a uma existência terrestre. Sua luta não é apenas pessoal, mas também coletiva. Se, no passado, a paisagem desolada da peça remetia à catástrofe nuclear, hoje ela ressoa com a paisagem ressecada do aquecimento global. A crise existencial do eu se funde à crise da espécie – e talvez do planeta.

Nesta montagem, o humor ácido de Beckett ganha relevo, revelando-se nas repetições obstinadas de Winnie, em seu otimismo inabalável diante do absurdo e na própria mecânica implacável do tempo. Entre o riso e a ruína, a peça constrói um jogo cruel e fascinante, onde cada palavra dita ressoa como um eco entre a esperança e o delírio.

Fotos: João Gabriel Monteiro

SERVIÇO:

DIAS FELIZES, de Samuel Beckett
Direção: Paulo de Moraes

Elenco:
Patrícia Selonk (Winnie)
Felipe Bustamante, Isabel Pacheco e Jopa Moraes (Willie)

Ficha Técnica:
Tradução: Jopa Moraes
Iluminação: Maneco Quinderé
Cenografia: Carla Berri e Paulo de Moraes
Figurinos: Carol Lobato
Música Original: Ricco Viana
Designer Gráfico: Jopa Moraes
Fotografias: João Gabriel Monteiro
Pedras Cenográficas: Alex Grilli
Efeito Sombrinha: Paulo Denizot
Videografismo: João Gabriel Monteiro e Paulo de Moraes
Assessoria para Videografismo: Rico Vilarouca
Colaboração Artística: Lorena Lima
Produção: Armazém Companhia de Teatro

 

Apresentações: 

1º a 18 de maio (quinta a sábado, 19:30h e domingo, 19h)

Duração: 75 minutos

Classificação: 14 anos

 

Espaço Armazém – Fundição Progresso

Rua dos Arcos 24 – Lapa

 

Ingressos à venda pela Sympla

Inteira: R$ 80

Meia-entrada: R$ 40